A gente se esbarrou ali pela primeira vez. Um ‘me desculpe’ baixinho saiu dos seus lábios e um sorriso torto de compreensão saiu do meu. Seguimos nossos caminhos como os perfeitos estranhos que éramos. Contei três passos e olhei para trás, tínhamos virado no mesmo instante. Sorrimos um para o outro, só que não voltamos atrás para conversar. Era estranho quando encontrávamos com pessoas na rua assim, por que não voltávamos atrás?
Na segunda vez, a confusão foi um pouco maior, todos os meus livros caíram aos seus pés depois de um tropeço desajeitado. Você riu e eu fiquei sem graça enquanto recolhia minhas coisas. Enquanto ria, você se abaixou e me ajudou a pegar meus livros. Mais uma vez ouvi aquele ‘me desculpe’ e eu sabia que era pela risada que saiu automaticamente. Eu sorri e me apresentei ‘Bruno, o desajeitado’. Com o rosto vermelho, não por timidez, mas pela risada, se apresentou também ‘Ana, a risonha’. Mais uma vez seguimos nossos caminhos, acho que você não me reconheceu e se o fez, não quis mencionar.
Lá para a oitava ou nona vez que nos esbarramos, ninguém estava contando – ou será que eu estava -, nos encontramos num bar. Cidade pequena, amigos conhecidos. Os seus amigos conheciam os meus e nós finalmente paramos para conversar. Dessa vez você me reconheceu, ‘Bruno, certo? ’. Nossas conversas foram dos encontros pela cidade, nossos signos e o que fazíamos da vida. Ana, a risonha, era professora numa escolinha perto da rua do primeiro esbarrão. Contei que era designer numa agência perto da rua em que os livros foram derrubados.
Na hora de ir embora não teve beijo de despedida, mas teve troca de telefones para que a conversa continuasse pelo whatsapp. Conversamos por dias antes do nosso primeiro encontro, nesse dia teve um beijo de despedida. E depois desse dia aconteceram muito mais conversas – e muito mais beijos -, e desde então estamos juntos. E eu só escrevi isso tudo pra te mostrar que lembro do nosso primeiro esbarrão, aquele em que a gente só trocou olhares e sorrisos tímidos. Se eu tivesse voltado atrás e conversado com você naquele dia, talvez nossa história não tivesse metade desses momentos ou nunca tivesse acontecido. Algumas coisas só acontecem no tempo em que devem acontecer e para nós dois, foram necessários oito ou nove encontros pelas ruas da cidade.
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por Agnes Martins – Follow my blog with Bloglovin